Gastronomia com identidade: Bom Conselho recebe a Feira Quilombola e celebra a cultura de Queimada Grande.

Na contramão do esquecimento e da invisibilidade, Bom Conselho viveu, na última quarta-feira (21), um reencontro com suas raízes mais profundas. A Rua Conselheiro João Alfredo, no coração da cidade, se transformou em palco para a Feira Gastronômica Quilombola – Sabores e Histórias de Queimada Grande, um evento que foi muito mais do que culinária: foi afirmação, memória e resistência.
Num país onde a cultura popular ainda luta para não ser engolida pelo esquecimento, a realização da Feira se destacou como um ato de valorização da gastronomia tradicional como ferramenta de preservação cultural e fortalecimento da identidade negra. Por trás de cada receita servida, havia uma história — muitas vezes esquecida — contada em silêncio pelos temperos, pelas mãos calejadas que prepararam os pratos e pelos saberes ancestrais transmitidos de geração em geração.
A programação foi um verdadeiro mergulho na alma do quilombo: oficina de culinária tradicional, pratos típicos à venda e para degustação, e o mais importante, um espaço de empreendedorismo e geração de renda para os participantes, a maioria mulheres negras que carregam na pele e nos sabores a história do Brasil profundo.
A música e as apresentações culturais deram o tom da festa, reunindo o passado e o presente em um mesmo compasso. Porque cultura é isso: encontro, emoção, memória viva. E a Feira cumpriu bem esse papel.
Idealizada pelo produtor cultural Gustavo Pereira, com cooperação geral de Lenira Feitosa, a Feira Gastronômica Quilombola não aconteceu por acaso. Foi fruto de um esforço coletivo e contou com incentivo do Governo do Estado, através da Política Nacional Aldir Blanc de fomento à cultura, além do apoio indispensável de parceiros locais.
A pergunta que fica é: quando eventos como esse deixarão de ser exceção para se tornarem política permanente de valorização do que somos? Que a Feira de Queimada Grande não seja apenas um ponto fora da curva, mas o início de um ciclo em que a cultura popular seja tratada com o respeito e o investimento que merece.
Porque, no fim das contas, preservar a memória é cozinhar com afeto. E na última quarta-feira, em Bom Conselho, o cheiro do dendê falou mais alto do que qualquer discurso.
Do Blog Tiago Padilha
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